Buckaroo,
Não tenho a menor idéia do que significa “boas intenções” pra você e nem onde isso se encaixa no que eu disse. “Boas intenções” são coisas que um indivíduo faz e que ele, e somente ele, julga boa! Mas isso não é suficientemente objetivo pra analisar qualquer coisa que se queira. Entretanto, já que você insistiu nisso, onde está a objetividade disso e como podemos considerar as “boas intenções” de alguém pra analisar o que quer seja?
Não considero fácil ou mesmo muito útil procurar delinear objetivamente "boas intenções".
O que enxerguei como tal no que você disse foi, "quando pagamos por alguma coisa, pagamos por aquilo que queremos. O infeliz quer a droga, somente. A violência pode, e somente pode, vir a ser um efeito indireto da estrutura desse mercado e da sua repressão."
Ou seja, a lógica de que, porque eu quero X, se alguém me oferece esse X, pelo fato de eu simplesmente querer X, não tenho a menor responsabilidade ou culpa por Y e Z que o meu fornecedor faça para me prover X, mesmo que eu esteja perfeitamente ciente disso, não seja nenhum ingênuo.
Simplesmente não acho que cola. Parece que é só trocar o X de "droga" para algo como "prostituta", "aparelho de som", "carro", e o Y e Z poderem abranger desde "a mesma" violência usada pelo tráficou ou adicionar-se coisas como "escravidão", que de repente a lógica não vale mais.
Porque você não entende bulhufas do que está falando. Se você troca X por um carro verá que é um efeito danoso, mas aí um carro pode, e não se sabe porquê.
Não, não considero que possa se trocar o "X" por "carro" em "eu quero X, se alguém me oferece esse X, pelo fato de eu simplesmente querer X, não tenho a menor responsabilidade ou culpa por Y e Z que o meu fornecedor faça para me prover X.
Especialmente se usarmos uma analogia próxima, que seria de carros forncecidos por gangues violentas.iç
Não existe nenhuma proibição de se andar de carro, existe um mercado legal. Quem quer comprar alcool compra de um bar, quem quer comprar maconha compra de traficatne.
E desses, o único que faz algo seriamente reprovável é o que compra de gangues violentas.
Nem mesmo o impacto ambiental de um carro obtido legalmente e sem envolvimento de criminosos e de N hipotéticas situações condenáveis (escravidão, semi-escravidão, etc) é algo a ser totalmente desconsiderado, mas não é algo equiparável a se financiar gangues violentas.
Porque como eu já disse e parece que você me copiou abaixo, você acha que tem a moral absoluta e entende a degradação do que é ruim, etc..
Não se está financiando, está se consumindo drogas, da mesma maneira que quando eu compra um nike eu não estou ajudando a escravidão, eu estou comprando um tenis.
Se você não quer aceitar, é simplesmente porque seu argumento é baseado em uma escala de moral sua que é aceito por algumas pessoas e outras não, mas não tem nada de lógica.
Como eu disse, repetidas vezes, aceito que várias coisas que fazemos tem resultados menos do que ideais, podendo ser desde tão ou mais graves quanto aqueles de se comprar maconha ou outras coisas de gangues, até coisas bem mais leves. Essas coisas que fazemos devem ser julgadas individualmente, por suas próprias conseqüências, pela necessidade ou superficialidade do que se faz, e não se escolher uma coisa cujas conseqüências se julge insignificantes e nivelar por ela, como se fosse análoga a qualquer coisa arbitrária. Cuspir chiclete no chão é uma coisa, e empresas jogarem lixo tóxico no meio ambiente é outra, pessoas jogarem entulho em terrenos baldios, outra ainda. Cada uma tem sua gravidade e "condenabilidade", não dá para se justificar a segunda ou a terceira pela primeira ser comparativamente inócua. E a primeira, para começar, não deixa de ser algo reprovável o tempo todo, apenas porque é a menos grave delas.
Eu não sei onde "comprar nike" seria plotado nessa escala de como as coisas são necessárias e reprováveis (ou não), mas não é simplesmente o fato de ser popularmente aceito comprar Nike que irá realmente justificar essa compra, quaisquer que sejam os meios empregados na sua produção. Da mesma forma que escravidão e apedrejamento de adúlteras até a morte não são coisas que consideramos aceitáveis apenas por serem popularmente aceitas em algumas regiões (ainda que seja o coerente a se fazer, se for realmente insistir em se posicionar contra uma moral absoluta).
A questão é que eu não considero que as ações de alguém em uma sociedade vão ser inócuas, de maneira alguma, e quem quer defender a perfeição de ações acabam caindo em uma hipocrisia sem fim e não consegue perceber isso.
Não há hipocrisia, há apenas uma percepção de gradações de dano que se causa e de grau de necessidade daquilo. Não dá para comparar financiar o tráfico com cuspir chiclete no chão, mas é nisso que você insiste; não só isso, mas não vale o tu quoque, "ah, muita gente cospe chiclete no chão, isso causa N danos à sociedade, então é hipocrisia reclamar de alguém financiar o tráfico", e também cuspir chiclete no chão já não é algo que deva ser exatamente "aceito". Outras coisas, como o sistema de transportes que existe hoje em dia e os problemas que causa, são mais complicadas do que simplesmente "não cuspa chiclete no chão", e "não compre coisas de gangues".
sem comentários, você sabe que isso não tem sentido.
Sem comentários quanto a não ter comentários.
A pessoa tem que balancear o que lhe parece adequado fazer frente as opções que tem e frente ao impacto que isso causa. Se você acha melhor andar de carro e agir indiretamente para o aquecimento global você não seria melhor que um bicho grilo que não come carne nem anda de carro e fuma sua maconha e impacta indiretamente na violência. Ponto.
Numa visão totalmente relativista, sim. Também não valeria mais do que um bandido que acha que matar é o que tem que fazer para poder viver sob o sistema e etc.
Em uma visão lógica sim. Em uma visão de um neurótico que tem certeza que o que ele acha de errado é o mal absoluto mas insiste em não dar razão alguma além de comparações com escrotas com escravidão, etc..,aí não.
Não é simplesmente "lógica", é relativismo. E "escravidão", qualquer que seja o motivo de ser uma comparação "escrota", não foi a única comparação. Comparações muito mais próximas já foram feitas, repetidas vezes. Quaisquer coisas fornecidas por gangues violentas. Desde ioiôs até carros. Com condições que, para a pessoa (afinal, nós não podemos julgar o que é importante para elas -- se isso não valer só para drogas ilícitas versus lícitas, que é o que parece), sejam análogas aos problemas de se conseguir as específicas drogas que quer, de maneira legal.
O que nem deveria ser realmente uma necessidade, de qualquer forma, essas condições análogas à dificuldade de obtenção pela proibição.
Acho que esse é o elemento mais absurdo de toda a argumentação. "Ah, mas o cara comprar um carro de uma gangue não é justificável porque ele poderia comprar legalmente; mesmo que mais caro, não é tão drástica a diferença quanto ir para a Holanda". Essa ponderação simplesmente aceita a conexão, a responsabilidade, que é condenável que se pague para gangues violentas nos fornecerem coisas, mas ao mesmo tempo, e de maneira embasbacadoramente absurda, simplesmente aceita que a a droga vale mais do que a vida das pessoas. A droga ou uma viagem ou mudança para a Holanda, um dos dois.
Bem, por outro lado, eu parto de um ponto de partida onde as coisas são coerentes, lógicas. Se é errado pagar para uma gangue me dar cerveja, ou um carro, por causa da violência dela, é também errado pagar para ela me dar maconha. E isso não muda em nada, num passe de mágica, só porque as gangues praticamente detém o monopólio da maconha.
Sua moral de boteco lhe atrapalha. Qualquer tentativa de abstrair as sentenças como já fiz antes (consumo X, violência direta ou indireta, etc..) te deixaria um ofensor para a sociedade. Viva a vida o melhor que pode, não seja hipócrita, não deixe de viver algo que te é interessante se isso for razoavelmente justificável. Se você acha que isso é igual a ir a um puteiro entre 1.000 onde tem escravas algemadas, o argumento é tão tosco que merece 1.000 face palms.
Claro, porque só você que pode "DECIDIR O QUE É IMPORTANTE PARA A VIDA DAS PESSOAS". Droga fornecida por gangues violentas em vez de lícita, perfeitamente justificável; quem quer que morra por uma bala perdida (ou não) do tráfico deve lembrar em seus momentos finais que aquilo não foi em vão, mas por um fim nobre e perfeitamente justo. Já aquele puteiro, aquelas putas em específico, em vez de outras, em outro lugar, de jeito nenhum, injustificável. E não tem fetiche que justifique. Só fetiche com drogas.
Aqui foi a imitação. Na verdade quem quer decidir o que é importante e aceitável, e já se usou desse argumento foi você.
Você também, quando acha que é inaceitável pagar para gangues darem outras coisas além de maconha ou outra droga que não possa ser obtida legalmente num país ou região. Para quaisquer outras coisas e condições vantajosas de fornecimento que uma gangue possa oferecer, você se vê plenamente capaz de julgar e colocar como errado, pagar para uma gangue fornecer. Aí o julgamento individual e a moral relativista são abandonadas, e é a moral absoluta que impera, não sendo mais um rótulo pejorativo para colocar naquilo com que não concorda.
E se naquele puteiro em especial também fornecerem drogas que não se consegue em outros lugares? Aí vale?
E se as putas forem também "mulas", se prostituindo para pagar as dívidas com os fornecedores? Aí sim deve ser OK.
sem comentários.
Pois é.