Qualia é a "percepção" de uma coisa. Não o estímulo físico "lá fora".
É a atividade neuronal "como você a sente", "do seu ponto de vista".
nossa. Quer dizer que o fato de termos memorias distintas, criações distintas, humores distintos em determinado dia, hormônios, preconceitos, etc.. nos faz interpretar coisas distintas a partir de um acontecimento único é tão estranho assim? É só o óbvio.
...não...
Normalmente não deve ser muito distinto de pessoa para pessoa, isso é um detalhe; pode diferir de acordo com diferenças físicas no sistema sensorial ou de "aprendizado" do cérebro.
Discordo, pode ser completamente distinto. Onde uma pessoa vê um casal feliz, outra ve dois gays imorais contra Deus, enquanto um vê uma árvore e se arrepia com a beleza da natureza outro vê matéria prima para uma mesa. Experiências distintas, genética distinta, interpretações distintas. E isso é apenas o óbvio.
Só que, tanto quanto sei, isso mal está dentro do assunto.
Subjetividade, a coisa "do seu ponto de vista", não significa aqui, "tudo que a coisa faz te sentir, todas as suas associações particulares", mas só a "representação" mais imediata, "intrínseca".
Ex.: se você vê uma "bola amarela" num sonho, na realidade, ou em alucinação, um dos qualia de que se pode falar é "amarelo", ou a "impressão de amarelo" dentro do contexto dos quale-cores que circundam, que podem fazer com que outra cor pareça amarelo -- mas por simplificação, digamos apenas "amarelo". E não que o amarelo para você é uma "cor alegre", que "te lembra o sol", que é sua cor preferida, etc. São os "píxeis" dentro da faixa de cor "amarela" em sua mente. Ou um dado "som" que você ouve, em sonho ou de fato; o qualia é apenas o "som mental", não se você acha um som agradável ou ruim, se te lembra outra coisa qualquer, etc.
E estas representações básicas, a grosso modo, não devem variar tremendamente de pessoa para pessoa, com cérebros e sistemas sensoriais "iguais", e que não tenham tido um desenvolvimento/"alimentação" radicalmente dissimilar (como ter vivido sempre no escuro). Se uma pessoa é colocada numa sala esférica onde tudo que vê é apenas "amarelo", é bem provável que a atividade cerebral relacionada diretamente à representação/percepção visual seja tão idêntica quanto puder ser à de outra pessoa na mesma sala -- mas o que mais a pessoa pensa disso é outra história, suas indagações, se acha aquilo curioso, irritante, ou amedrontador, é outra história, e sim, não é surpreendente que vá haver esse tipo de variação (apesar de também haver alguns universais, mesmo assim).
Ou seja, não há isso de "qualia de um casal feliz andando". Isso é "composto" de uma série de diversos qualia distintos, da mesma forma que um vídeo de computador da mesma coisa não é exatamente uma coisa "monlítica" que tem isso como "essência", mas é constituído de uma série de elementos que criam isso em conjunto.
Como você "se sente" sobre a cena, "oh, que belo casal feliz", ou "argh, que nojo", ainda seria uma outra categoria toda de qualia, também possivelmente sendo o caso de ser algo "feito" de um arranjo de elementos mais básicos, não algo "monolítico".
O que você disse sobre sonhos está incoerente e difícil de entender.
Sonhos são "imagens" e "sons", e talvez outras "sensações" que o cérebro cria durante uma fase do sono. Essas "imagens" e "sons" não tem realmente luz nem ondas sonoras, são só a mesma coisa que o seu cérebro faz quando reage a estímulos de luz e ondas sonoras obtidos pelos olhos e ouvidos. É algo real, acontece no cérebro; é um aspecto da atividade cerebral visível/perceptível apenas pelo cérebro sofrendo a atividade em questão.
Não é real. É sonho. E sabemos como distinguir fácilmente com algumas poucas exceções, principalmente ao longo de muito tempo. São processos bem distintos.
O processamento visual de imagens, ou "geração" de imagens no sonho não parece ser tremendamente distinto da geração de imagens que, quando acordado, é feita a partir da entrada de estímulos vindas dos olhos, em vez de "inventada"/reproduzida inconscientemente a partir de memórias ou. Como eu disse, isso é verificado com comparações em FMRI, as pessoas podem até dizer com o que a pessoa sonhou, o que ela viu, comparando os FMRIs.
Não condiz com o sentido comum de "interpretação" de qualquer coisa. Eu não "interpreto" conscientemente uma cor, simplemente a vejo, já "pronta". Interpretação pode haver sobre que figura/objeto representaria um arranjo de cores e formas, mas o arranjo em si não é uma "interpretação", é uma aparência, percepção visual "imediata".
Não, você interpreta. pode te trazer memórias, associações, sentimentos bons ou ruins, idéias.. não existe isso de informações atômicas no cérebro não sujeitos a interpretação.
Se você pisa num prego, você primeiro simplesmente "sente" a dor. A dor não é uma "interpretação" de nada. É mais como um "reflexo", como você levantar a perna ao levar uma marteladinha no joelho não é qualquer "interpretação", mas reação atomática do estímulo.
Depois você pode interpretar que a dor, vindo de onde veio, quando veio, significa que você pisou em um prego. Mas você a sente imediatamente, prontamente, e não depois de "interpretar" qualquer coisa "indolor" que passa por sua mente, e então "concluir" que sente dor.
PQP! Nem tinha visto isso:

Ainda não fizeram a coisa nesse nível com as imagens geradas em sonhos, mas o princípio é o mesmo, embora as comparações feitas até então tenham sido mais "grosseiras".
http://abcnews.go.com/Health/MindMoodNews/scientists-youtube-videos-mind/story?id=14573442O que me referia era:
Scientists 'read dreams' using brain scans
http://www.bbc.co.uk/news/science-environment-22031074Neural Decoding of Visual Imagery During Sleep
T. Horikawa1,2, M. Tamaki1,*, Y. Miyawaki3,1,†, Y. Kamitani1,2,‡
+ Author Affiliations
1ATR Computational Neuroscience Laboratories, Kyoto 619-0288, Japan.
2Nara Institute of Science and Technology, Nara 630-0192, Japan.
3National Institute of Information and Communications Technology, Kyoto 619-0288, Japan.
+ Author Notes
↵* Present address: Brown University, 190 Thayer Street, Providence, RI 02912, USA.
↵† Present address: The University of Electro-Communications, Tokyo 182-8585, Japan.
↵‡Corresponding author. E-mail: kmtn@atr.jp
ABSTRACTEDITOR'S SUMMARY
Visual imagery during sleep has long been a topic of persistent speculation, but its private nature has hampered objective analysis. Here we present a neural decoding approach in which machine-learning models predict the contents of visual imagery during the sleep-onset period, given measured brain activity, by discovering links between human functional magnetic resonance imaging patterns and verbal reports with the assistance of lexical and image databases. Decoding models trained on stimulus-induced brain activity in visual cortical areas showed accurate classification, detection, and identification of contents. Our findings demonstrate that specific visual experience during sleep is represented by brain activity patterns shared by stimulus perception, providing a means to uncover subjective contents of dreaming using objective neural measurement.
http://www.sciencemag.org/content/340/6132/639
Parece que os paradigmas "não-representativos" de sensações estão com os dias contados.