Algumas considerações abaixo sobre o que falávamos a respeito de esforços necessários no sentido de se obter um Ciência Econômica de fato científica e objetiva, suplantando visões de economia política baseadas em filosofias sem referencial objetivo na realidade verificável (ainda predominantes).
"Qualquer empreendimento científico precisa ser fundamentado em sólidos conhecimentos empíricos sobre o fenômeno em questão. Milton Friedman colocou isso bem em sua conferência Nobel em 1976: "A fim de recomendar um curso de ação para atingir um objetivo, primeiro devemos saber se esse curso de ação, de fato, promoverá o objetivo. O conhecimento científico positivo que nos permite prever as conseqüências de um possível curso de ação é claramente um pré-requisito para o julgamento normativo, quer esse curso de ação seja desejável ". Claro, entendo-se “empírico” aqui como uma fase da aplicação do método científico, e não de forma isolada para se conseguir conhecimento.
No entanto, os autores do artigo permanecem otimistas. Para eles, o problema não é que os economistas sejam bloqueados em uma apologia do sistema capitalista, mas que é difícil "identificar" as variáveis certas em qualquer análise causal. Em outras palavras, a economia é uma ciência positivista como a física, mas está apenas atrasada na compreensão da "economia" em comparação com a física por causa da dificuldade extra no trabalho empírico.
A economia poderia progredir da mesma forma que a "ciência natural". "Macroeconomia e meteorologia são semelhantes de determinadas formas. Primeiro, ambos os campos lidam com sistemas de equilíbrio geral altamente complexos. Em segundo lugar, ambos os campos têm problemas para fazer previsões a longo prazo. Por esta razão, considerando a evolução da meteorologia é útil para entender o potencial de nossa pesquisa em macroeconomia. Nos velhos tempos, antes do advento da ciência moderna, as pessoas passaram muito tempo orando para os deuses da chuva e fazendo outras coisas loucas destinadas a melhorar o clima. Mas, à medida que a nossa compreensão científica do clima melhorou, as pessoas passaram muito menos tempo orando para os deuses da chuva e muito mais tempo assistindo o canal meteorológico. "
"As discussões políticas sobre a macroeconomia hoje são, infelizmente, altamente influenciadas pela ideologia. Os políticos, os decisores políticos e até mesmo alguns acadêmicos tiveram fortes pontos de vista sobre a política macroeconômica que não se baseia na evidência, mas sim na fé ".
http://www.columbia.edu/~js3204/papers/macroempirics.pdfMais de trezentos anos atrás Isaac Newton iniciou a Revolução Científica mostrando
que as leis da natureza são compreensíveis por humanos e são universais, aplicando em todo
lugar e em qualquer ponto no tempo. Superstição deu lugar à razão. Agora era possível
modelar o universo através de equações diferenciais que explicavam todos os fenômenos
naturais com base em alguns poucos princípios fundamentais. Era a visão do universo como
um relógio, perfeitamente ordenado e previsível. Esta visão embutia a promessa de que se
soubéssemos a posição e a direção de cada partícula no universo em dado momento do
tempo, poderíamos saber exatamente o que aconteceria em cada momento a seguir. Sob este
paradigma grandes avanços na ciência e em aplicações práticas foram e continuam sendo
feitas, incluindo mecânica de fluídos, termodinâmica, mecânica estrutural, eletricidade e
magnetismo, entre outras. A existência de caos e desordem no mundo era reconhecida, mas
não ameaçava esta visão, podendo ser tratada com teoria de probabilidade. Uma área que foi
profundamente influenciada por este modo de pensar foi a Economia. Em seu Elementos de
uma Teoria Pura de Economia Política (1874) Léon Walras criou um arcabouço que trata
os fenômenos econômicos por um prisma Newtoniano e reducionista, movido por agentes
racionais e sujeito a forças semelhantes às forças naturais, como a gravidade, levando a
equilíbrios ordenados e previsíveis. Este continua sendo o paradigma das Ciências
Econômicas até hoje. Esforços foram feitos para lidar com problemas como assimetrias de
informação, incerteza e outras imperfeições de mercados, mas tudo dentro do mesmo
paradigma reducionista, determinista e linear.
Mas já a partir de século 19 várias incongruências em fenômenos observados e em
experimentos começaram a por em dúvida a capacidade do arcabouço Newtoniano de
explicar o mundo. Destas falhas surgiram três novos paradigmas iriam revolucionar as
Ciências no século 20: Relatividade, Mecânica Quântica e Teoria do Caos, cada uma com
novas perspectivas, instrumentos e matemáticas. No entanto, estes avanços pouco
influenciaram as Ciências Econômicas, que continuam, via de regra, com uma abordagem
essencialmente Newtoniana do século 19.
Nesta disciplina nosso interesse esta nos avanços desencadeados pela Teoria do
Caos, e mais especificamente por sua mais recente reencarnação sob a forma da
Teoria de
Sistemas Complexos Adaptáveis.
Ciências Econômicas rapidamente tomou uma direção Cartesiana onde um problema
maior é estudado decompondo-o em pequenas partes simples que depois são juntadas
linearmente para se obter uma compreensão do todo integrado. Mais explicitamente, a
Economia seguiu as outras ciências no século 19 na busca de uma abordagem
mecanicista Newtoniana que visa ‘uma idealização matemática precisa para unificar e ao
mesmo tempo quantitativamente prever o comportamento dos mais diversos fenômenos’
(Ryan, 2008). De fato, sabe se que Walras, que primeiro juntou matemática com
economia, se baseou explicitamente nos livros de física da época (em particular no
capítulo 2 do livro Elements of Physics de Poinsot de 1803, cujo título era “On
conditions of equilibrium expressed by means of equations.”) Pelo final do século 20 os
economistas haviam refinado e avançado estas abordagens Newtonianas e Cartesianas
da Economia para formar uma serie de modelos rigorosos e matematicamente bem
definidos (Beinhocker, 2007: 48). No entanto, a esta altura a grande maioria das outras
ciências, a começar pela Física, haviam evoluído e abandonado este paradigma
Newtoniano mecanicista e avançado para visões menos reducionistas, reconhecendo que
muitos dos fenômenos mais interessantes do mundo têm características de sistemas
complexos que são melhores compreendidos através do estudo da análise das interações
entre agentes heterogêneos seguindo regras simples que levam à emergência de um todo
maior que a soma das partes. Assim, em 1987 quando o Santa Fé Institute, que é hoje
um dos principais centros de estudo de complexidade, realizou a lendária conferência
entre cientistas físicos e economistas (presentes Kenneth Arrow, Larry Summers, Mário
Henrique Simonsen e José Scheinkman, entre outros), os cientistas físicos ficaram
impressionados com o intelecto dos economistas, mas ficaram também chocados como
as teorias e métodos usado pelos economistas pareciam relíquias de outras eras. A
sensação, descreveu um cientista físico, era parecida com um viagem a Cuba, ou seja,
um lugar parado no tempo e fechado do mundo com as ruas cheias de carros velhos da
década de 50, onde era ao mesmo tempo valoroso e patético o esforço e a ingenuidade
dos nativos para manter aqueles carros funcionando por tanto tempo usando peças
resgatadas de velhos tratores soviéticos.
http://www.economia.unb.br/images/pos/ementas/2-2014/A_Economia_como_um_Sistema_Complexo_Adapt%C3%A1vel_-_Bernardo_Mueller.pdf