Autor Tópico: Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência  (Lida 133278 vezes)

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1150 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:16:02 »
Ok. Sobre falseabilidade: a existência dos qualia talvez seja falseável.

Isso me soa meio como falar sobre "a existência do mundo talvez seja falseável".

"Qualia" é a "aparência das coisas". Como isso sequer poderia "não existir", que sentido há em postular a possibilidade de inexistência disso? Está no mesmo pé, ou até pior, que postular a "inexistência do mundo", uma vez que, por tudo que sabemos do cérebro, não é impossível que estivéssemos (ou você/eu estivesse) numa "realidade virtual", um cérebro num vidro. Mas aquilo que o cérebro está percebendo de forma "imediata" (qualia) é "inegável", ou inegável se não formos jogar a lógica às favas.

Tudo o que pode se dizer "inexistir" são apenas hipóteses sobre a ontologia disso, ou "qualia" sob uma definição com uma ontologia específica, não nessa acepção geral.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1151 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:18:48 »
Mas é o que estou te dizendo doubt, quando entra nessa caixa citada, ele já está sujeito a toda subjetividade. Esse seu lugar que você citou que processa o qualia como isolada de qualquer subjetividade, não existe. Entrou no cérebro, já está sujeito a tudo, experiências, humores, pre-conceitos, QI, tudo..

O cérebro então não tem qualquer organização, é uma zona geral de impulsos desorganizados, onde nada é isolado de qualquer outra coisa?

Offline AlienígenA

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1152 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:20:49 »
Primeiro não tem ilusão, o objeto está lá. Segundo não é o objeto que geraria a ilusão mas sim nosso cérebro que interpreta ese objeto. O sentido do seu vetor esta invertido. E ele é visto e processado.

Velho, para de fazer leitura dinâmica. Prestenção no texto, pô!  :P  Quem disse que o objeto é que gera a ilusão/imagem/qualia (QUALIA, SIM, POR QUÊ?  :hmph: )?  :) Eu, com certeza, não.

É claro que tem ilusão. Óbvio. O objeto está lá, do lado de fora, né? Não dentro da cabeça. A conversão dos impulsos visuais não geram cópias dos objetos no cérebro, apenas uma projeção ilusória dos objetos vistos ou "vistos" (visão cega). E a "ilusão de si mesmo" a que me referia é a mente: como uma porção de matéria gera a ilusão de si mesma (mente/consciência) a partir da conversão dos dados da percepção (QUALIA, QUALIA, QUALIA, QUALIA)?  :P

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1153 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:29:51 »
Como você pode ensinar a "verem" o vermelho, se não estão "vendo nada" para começar? Pode mostrar sangue a vontade, que continua sendo só "nada", se a pessoa não vê qualquer coisa. Tem que ver algo para poder "dar significado" a esse algo.

Como não estão vendo nada? Eu apenas citei sangue para dizer que em um hipotético caso onde ninguém explicou à criança o que é vermelho, ela poderia fazer associações com cor de sangue por exemplo

Se antes de explicar o que é o vermelho a pessoa não vê vermelho ao ver algo vermelho, o que ela vê?





Citar
Acho que talvez essa "ilusão" seja interessante na questão. Acho que apareceu ou foi mencionada em algum dos vídeos:



O que estaria acontecendo aí? Por que as pessoas fariam "interpretações" de que os rostos desses atores e atrizes são tão diferentes do que eles sabem ser?

"Simples", não há qualquer "interpretação" nesse nível "ainda mais alto", de "significados" e "valores pessoais", mas só um processamento mais automático/"inconsciente" que "se vira" com a imagem captada/"a disposição" para criar algo "mais ou menos convincente" com essa informação limitada / aparecendo num padrão não-natural. Ou "seja lá o que for", talvez haja uma  descrição muito melhor do que está acontecendo, e que seja significativamente diferente disso*. Mas acho seguro afirmar que o que definitivamente não está acontecendo é qualquer tipo de "interpretação" psicológica sobre como os rostos dessas pessoas são; eles "aparecem prontos", sem que se interprete nada. Não entram em questão gostos pessoais e valores morais, nada. Só uma tentativa automática de reconstrução da realidade (ou "ecos" epifenomenais disso), a partir de padrões aprendidos de forma praticamente instintiva.



* Artigo de acesso livre sobre o fenômeno:

Citar
Visual adaptation and face perception
Michael A. Webster1,* and Donald I. A. MacLeod2
+ Author Affiliations

1Department of Psychology, University of Nevada, Reno, NV 89557, USA
2Department of Psychology, University of California, San Diego, La Jolla, CA 92093, USA
*↵ Author for correspondence (mwebster@unr.edu).
 
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Abstract

The appearance of faces can be strongly affected by the characteristics of faces viewed previously. These perceptual after-effects reflect processes of sensory adaptation that are found throughout the visual system, but which have been considered only relatively recently in the context of higher level perceptual judgements. In this review, we explore the consequences of adaptation for human face perception, and the implications of adaptation for understanding the neural-coding schemes underlying the visual representation of faces. The properties of face after-effects suggest that they, in part, reflect response changes at high and possibly face-specific levels of visual processing. Yet, the form of the after-effects and the norm-based codes that they point to show many parallels with the adaptations and functional organization that are thought to underlie the encoding of perceptual attributes like colour. The nature and basis for human colour vision have been studied extensively, and we draw on ideas and principles that have been developed to account for norms and normalization in colour vision to consider potential similarities and differences in the representation and adaptation of faces.

http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/366/1571/1702.full


sim há. o problema são os sinais emitidos que estão confusos por limitações do aparelho (você está focando no ponto do meio), a rapidez do refresh, e a limitação da experiência visual (pouco tempo, não há foco, etc..). Basicamente você coloca o cara em uma situação extrema como se fosse com lentes absurdamente altas e reclama que a imagem não é formada e acha que isso prova alguma coisa.

Não, a imagem é formada, como vemos, e conforme explicam os estudos. Há uma espécie de "aclimatação" do processamento visual, que não sofre um "reset" quando a face é trocada, então "variáveis" da face anterior distorcem a "representação" posterior. Algo similar ocorre com a aclimatação a cores, quando você ao ficar olhando por alguns instantes para uma dada cor, e ter ela trocada instantâneamene por outra, verá não a cor verdadeira, a que veria sem estar olhando antes para a cor precedente, mas uma outra cor, resultante da combinação, se não me engano.

Ex.:



No caso a exposição às cores complementares às cores "de verdade" se transformam nas cores "de verdade", aplicadas sobre uma foto apenas em tons de cinza, que você verá colorida.

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1154 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:47:37 »
Isso me soa meio como falar sobre "a existência do mundo talvez seja falseável".

"Qualia" é a "aparência das coisas". Como isso sequer poderia "não existir", que sentido há em postular a possibilidade de inexistência disso? Está no mesmo pé, ou até pior, que postular a "inexistência do mundo", uma vez que, por tudo que sabemos do cérebro, não é impossível que estivéssemos (ou você/eu estivesse) numa "realidade virtual", um cérebro num vidro. Mas aquilo que o cérebro está percebendo de forma "imediata" (qualia) é "inegável", ou inegável se não formos jogar a lógica às favas.

Tudo o que pode se dizer "inexistir" são apenas hipóteses sobre a ontologia disso, ou "qualia" sob uma definição com uma ontologia específica, não nessa acepção geral.

Ola Buck,

Na realidade a resposta dele está para uma colocação minha de que, provavelmente, teorias sobre qualia/consciência não sejam falseáveis, no sentido de que, para realmente sabermos se algum animal, ou algum sistema está experimentando algo, necessitamos de relato em 1a. pessoa, ou algo como verossimilhança. Uma abordagem "100% objetiva", em 3a. pessoa, me parece não ser possível.

Abs
Felipe

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1155 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:58:43 »
Também acho que não é o caso. A única proposta que já vi de algo parecido era coisa bem de ficção científica, do Ramachandran, meio como o "cabo" de "Matrix" que conectava as pessoas à matrix, mas conectando um cérebro a outro. Só não é ficção científica se pudermos tomar gêmeos siameses com cérebros ligados por uma "versão" disso. Mas não é exatamente suficiente a menos que se supusesse que qualquer ligação de cérebro com cérebro fosse ser uma espécie de mistura de "USB" com "VNC", quando pode bem ser só algo meio como um HD e alguns arquivos temporários compartilhados, não ter a "especificidade" necessária para um "VNC" da outra pessoa -- o que provavelmente seria simplesmente impossível pelo que entendo da noção/teoria de "área de trabalho global" de Baars, que deve ser uma das mais aceitas, pelo que sei. Em vez de se ter a consciência fenomenal como uma espécie de "interface gráfica" bem localizada, seria um fenômeno amplamente distribuído.


E isso nem chega perto de ser qualquer espécie de comprovação ou refutação da coisa se levarmos em consideração teorias como aquelas de que um país poderia ter consciência, se realizasse as mesmas funções, ou funções suficientemente análogas. (acho que o próprio dr. Manhattan mencionou anteriormente). Não tem como se imaginar que tipo de "cabo" se poderia fazer para ligar a "consciência de um país" à consciência de uma pessoa, para que esta pudesse verificar "como é ser um país".

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1156 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 18:58:51 »
Uma coisa que eu acho estranha é a seguinte : o Dualismo foi criado em uma época em que literalmente entendíamos o mundo observado como um grande lego, como composto por bolas de bilhar "concretas".

A física vem evoluindo, e se não estou enganado, o que existe de mais "moderno" é o que trata todas as partículas como excitações de campos quânticos. Ou seja, se não estou enganado, hoje aceita-se a exsitência de entidades físicas fundamentais chamadas de campos quânticos, para explicar as "bolinhas" de bilhar que percebemos em nossos experimentos e com nossos sentidos.

Então, porque tanto estranhamento e rotulação tipo  "fantasmas na máquina", etc, com relaçãoa possibilidade de se postular qualia como propriedade fundamental, se hoje temos estes "campos fantasmas", que admitimos como entidades fundamentais reais, para explicar a nossa realidade ?

Eu aposto que este tipo de abordagem receberia o mesmo rotulo de "dualista" no passado.

ps : alguem que sabe sobre Teoria Quantica de Campos pode comentar/corrigir o que falei a respeito da ontologia dos campos quânticos ?

Abs
Felipe


 

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1157 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 19:06:08 »
Madiba, tenha dó. O que o Felipe está dizendo é que se você olhar para o cérebro de um homem enquanto ele observa um quadro, tudo que você verá são impulsos nervosos num pedaço de carne. Qualia é o resultado da conversão desses impulsos nervosos que você observa no cérebro exposto, do homem que observa o quadro, na imagem do quadro, na mente do homem.  :olheira:

Pois é. Mas daí ele dá um enoorme salto conceitual, ao tratar os qualia como algum tipo de entidade fundamental transcendente.




Não me parece muito distante do que você defendia no início do tópico:


Já usei demais o Dennet neste tópico. Vou invocar agora o Douglas Hofstadter: uma dos pontos que ele enfatiza é o fato de que,
embora seja possível criar uma hierarquia de máquinas cada vez mais complexas, de um relógio a um cérebro, uma máquina consciente
(embora o que li dele se refere a inteligência artificial, e não a consciência, mas acredito que o mesmo argumento vale) possui algumas
características particulares. Uma dessas características é a auto-referência. Ou seja, esse tipo de máquina recebe inputs não só do
mundo externo, mas também dos seus próprios estados internos. Isso gera um sistema com um caráter fortemente não-linear, bem
diferente de um mecanismo que apenas reage a estímulos. Mais um motivo para considerar argumentos do tipo do Searle como espantalhos:
se o "quarto chinês" tiver um número grande o suficiente de agentes trabalhando dentro dele, com um número suficientemente grande
de regras e com auto-referência, é possível imaginar que o conjunto do quarto demonstrasse consciência.

Grifo meu. Que diabos seria isso senão uma nova coisa "fundamental" emergindo da física, uma vez que isso não é ainda "previsto" por nada?

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1158 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 19:07:34 »
Também acho que não é o caso. A única proposta que já vi de algo parecido era coisa bem de ficção científica, do Ramachandran, meio como o "cabo" de "Matrix" que conectava as pessoas à matrix, mas conectando um cérebro a outro. Só não é ficção científica se pudermos tomar gêmeos siameses com cérebros ligados por uma "versão" disso. Mas não é exatamente suficiente a menos que se supusesse que qualquer ligação de cérebro com cérebro fosse ser uma espécie de mistura de "USB" com "VNC", quando pode bem ser só algo meio como um HD e alguns arquivos temporários compartilhados, não ter a "especificidade" necessária para um "VNC" da outra pessoa -- o que provavelmente seria simplesmente impossível pelo que entendo da noção/teoria de "área de trabalho global" de Baars, que deve ser uma das mais aceitas, pelo que sei. Em vez de se ter a consciência fenomenal como uma espécie de "interface gráfica" bem localizada, seria um fenômeno amplamente distribuído.


E isso nem chega perto de ser qualquer espécie de comprovação ou refutação da coisa se levarmos em consideração teorias como aquelas de que um país poderia ter consciência, se realizasse as mesmas funções, ou funções suficientemente análogas. (acho que o próprio dr. Manhattan mencionou anteriormente). Não tem como se imaginar que tipo de "cabo" se poderia fazer para ligar a "consciência de um país" à consciência de uma pessoa, para que esta pudesse verificar "como é ser um país".

Ola Buck,

E mesmo a teoria do Tononi é totalmente dependente do relato em 1a. pessoa e de verossimilhança. Por exemplo : vamos dizer que ele aplique sua métrica (Phi) e ela dê o mesmo valor para um ser humano consciênte e para um computador quântico super avançado. Como saberemos que o computador realmente está experimentando qualia, mesmo que ele fale que está? Como falsear isso ?

O Entropia enviou um experimento mental que se propõe a isso. Ainda não li.

Abs
Felipe

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1159 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 19:15:35 »
Já usei demais o Dennet neste tópico. Vou invocar agora o Douglas Hofstadter: uma dos pontos que ele enfatiza é o fato de que,
embora seja possível criar uma hierarquia de máquinas cada vez mais complexas, de um relógio a um cérebro, uma máquina consciente
(embora o que li dele se refere a inteligência artificial, e não a consciência, mas acredito que o mesmo argumento vale) possui algumas
características particulares. Uma dessas características é a auto-referência. Ou seja, esse tipo de máquina recebe inputs não só do
mundo externo, mas também dos seus próprios estados internos. Isso gera um sistema com um caráter fortemente não-linear, bem
diferente de um mecanismo que apenas reage a estímulos. Mais um motivo para considerar argumentos do tipo do Searle como espantalhos:
se o "quarto chinês" tiver um número grande o suficiente de agentes trabalhando dentro dele, com um número suficientemente grande
de regras e com auto-referência, é possível imaginar que o conjunto do quarto demonstrasse consciência.

Grifo meu. Que diabos seria isso senão uma nova coisa "fundamental" emergindo da física, uma vez que isso não é ainda "previsto" por nada?

E, ao meu ver, nesses raciocínios não se usa a descrição física do que sejam estes estímulos externos e internos, incluindo-se aí, o que se chama de auto-referência (são meramente impulsos elétrico-químicos em uma rede ultra-complexa). Já se usa conceitos como contexto e informação de uma forma que já se pressupõe uma percepção consciente, para que o que foi dito faça sentido.

E a ciência, em sua história, evolui propondo/revendo conceitos antigos e propondo novas entidades/propriedades. Pelo menos pelo que sei, não existe um caso sequer, na história da evolução da ciência, onde se tenha utilizado a emergência ontológica ao invés de se postular uma nova propriedade/entidade fundamental.

Abs
Felipe

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1160 Online: 25 de Fevereiro de 2014, 19:32:46 »
"Auto referência" no caso de organizações de pessoas acho que poderiam nem ser coisas significativamente "eletroquímicas", ou só tanto quanto papel e tinta são "eletroquímicos", e funcionários recebendo ordens de acordo com o que está no papel são coisas "eletroquímicas".

Offline Gigaview

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1161 Online: 04 de Março de 2014, 19:45:44 »
A Robot Succeeds in 100% Mirror Image Cognition

http://www.s2is.org/Issues/v1/n4/papers/paper4.pdf


Citar
Humans can easily identify their own image when reflected in a mirror. This is a rather strange capability because without the aid of something like a mirror humans are not capable of seeing their own face directly. Humans often say that they know themselves when looking in a mirror. This is, however, not an adequate explanation. Humans are said to become aware of their own image reflected in a mirror when they are about two years old.

To investigate the existence of this awareness capability, G. Gallup, Jr. proposed a mirror test in which chimpanzees, orangutans, dolphins, Indian elephants, and magpies all succeeded. Among philosophers and psychologists, Jacques Lacan presented his “hypothesis of the mirror stage” in which this phenomenon was considered to be an important base point in human growth and development.

The phenomenon in which humans become aware that the image reflected in a mirror is their own image is said to indicate the existence of self-consciousness. This is because humans make up and dress themselves using a mirror. In other words, one can think that solving the problem of awareness of self image in a mirror can lead to solving the problem of consciousness.

Reference to consciousness, however, creates a difficult situation.

At present, there are two camps: those who do not acknowledge the existence of consciousness and others who do acknowledge it.
It seems that many scientists in the former group take their stand from an engineering viewpoint, while many scientists in the latter see the situation from a scientific viewpoint. This separation is caused by the fact that the phenomenon of consciousness is not described definitely, in other words, the definition is not clear.

As an extreme standpoint of the former, there are opinions that consciousness is a subjective phenomenon and cannot be mathematically described, and therefore its existence is not acceptable. There are also opinions that consciousness is at present not acceptable but various types of human recognition and functions are acknowledged, and that in the future consciousness will be explained mathematically with an evolved integrated connection (called emergence).

The latter group is of the opinion that acknowledges the existence of human consciousness and will try to identify consciousness in the mechanism of the human brain.

It is very clear, however, that trying to elucidate the mechanism for identifying one’s self image in a mirror as a problem of consciousness will cause heated debate both for and against. However, I decided to challenge this investigation in a direction that had not been attempted much, that is, to consider the content of research regarding consciousness that is already known and to define human consciousness physically and mathematically. The reason why such an approach had not been conducted often by other researchers is that there is a strong mental resistance to attempts that seek to describe human consciousness physically and mathematically. This is caused by the strong belief that humans exist differently from machines. Also the possibility of a major finding in the initial stage is doubtful. This is because the definition of personal consciousness is seen to differ greatly from universal truth.

However, if attempts to define consciousness physically and mathematically in a concrete manner are always put off, we cannot hope to take even a first step toward understanding the mechanism of human consciousness. We can use an evolving method for creating an object like consciousness by combining recognition processes, and even if we can obtain various types of knowledge about the brain and the body in repeated research in brain science, we think that the method for recognizing consciousness returns finally to the “problem of defining consciousness.” In other words, it is natural that even if consciousness is not yet defined clearly, attempting to define “What is consciousness?” is always necessary. We are certain that this process is an important scientific method for understanding human consciousness.

...
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline _tiago

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1162 Online: 05 de Março de 2014, 06:45:39 »
Madiba, tenha dó. O que o Felipe está dizendo é que se você olhar para o cérebro de um homem enquanto ele observa um quadro, tudo que você verá são impulsos nervosos num pedaço de carne. Qualia é o resultado da conversão desses impulsos nervosos que você observa no cérebro exposto, do homem que observa o quadro, na imagem do quadro, na mente do homem.  :olheira:

Pois é. Mas daí ele dá um enoorme salto conceitual, ao tratar os qualia como algum tipo de entidade fundamental transcendente.




Não me parece muito distante do que você defendia no início do tópico:


Já usei demais o Dennet neste tópico. Vou invocar agora o Douglas Hofstadter: uma dos pontos que ele enfatiza é o fato de que,
embora seja possível criar uma hierarquia de máquinas cada vez mais complexas, de um relógio a um cérebro, uma máquina consciente
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características particulares. Uma dessas características é a auto-referência. Ou seja, esse tipo de máquina recebe inputs não só do
mundo externo, mas também dos seus próprios estados internos. Isso gera um sistema com um caráter fortemente não-linear, bem
diferente de um mecanismo que apenas reage a estímulos. Mais um motivo para considerar argumentos do tipo do Searle como espantalhos:
se o "quarto chinês" tiver um número grande o suficiente de agentes trabalhando dentro dele, com um número suficientemente grande
de regras e com auto-referência, é possível imaginar que o conjunto do quarto demonstrasse consciência.

Grifo meu. Que diabos seria isso senão uma nova coisa "fundamental" emergindo da física, uma vez que isso não é ainda "previsto" por nada?

Não entendi por que algo fundamental emerge desta proposição.

Offline Dr. Manhattan

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1163 Online: 05 de Março de 2014, 09:26:45 »
Madiba, tenha dó. O que o Felipe está dizendo é que se você olhar para o cérebro de um homem enquanto ele observa um quadro, tudo que você verá são impulsos nervosos num pedaço de carne. Qualia é o resultado da conversão desses impulsos nervosos que você observa no cérebro exposto, do homem que observa o quadro, na imagem do quadro, na mente do homem.  :olheira:

Pois é. Mas daí ele dá um enoorme salto conceitual, ao tratar os qualia como algum tipo de entidade fundamental transcendente.




Não me parece muito distante do que você defendia no início do tópico:


Já usei demais o Dennet neste tópico. Vou invocar agora o Douglas Hofstadter: uma dos pontos que ele enfatiza é o fato de que,
embora seja possível criar uma hierarquia de máquinas cada vez mais complexas, de um relógio a um cérebro, uma máquina consciente
(embora o que li dele se refere a inteligência artificial, e não a consciência, mas acredito que o mesmo argumento vale) possui algumas
características particulares. Uma dessas características é a auto-referência. Ou seja, esse tipo de máquina recebe inputs não só do
mundo externo, mas também dos seus próprios estados internos. Isso gera um sistema com um caráter fortemente não-linear, bem
diferente de um mecanismo que apenas reage a estímulos. Mais um motivo para considerar argumentos do tipo do Searle como espantalhos:
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Grifo meu. Que diabos seria isso senão uma nova coisa "fundamental" emergindo da física, uma vez que isso não é ainda "previsto" por nada?

Infelizmente, só agora vi este post.

Não seria de forma alguma fundamental. Veja o exemplo da economia: a inflação de preços não é uma entidade fundamental, que "vive" no papel moeda, mas é na verdade uma propriedade emergente da interação entre agentes econômicos. Esse tipo de propriedade emergente é bastante comum em sistemas complexos. E o cérebro é um sistema complexo. O problema desse dualismo que o Feliperj defende é que ele pressupõe uma ontologia para esse tipo de entidade. Seria como dizer que a inflação "existe" em algum mundo platônico. A grande diferença que admito existir entre o fenômeno da consciência e outros fenômenos emergentes são a auto-referência e a recursividade: a consciência cria inputs a partir dos seus próprios outputs e também lida com modelos que representam a si mesma.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1164 Online: 05 de Março de 2014, 09:37:12 »
Já usei demais o Dennet neste tópico. Vou invocar agora o Douglas Hofstadter: uma dos pontos que ele enfatiza é o fato de que,
embora seja possível criar uma hierarquia de máquinas cada vez mais complexas, de um relógio a um cérebro, uma máquina consciente
(embora o que li dele se refere a inteligência artificial, e não a consciência, mas acredito que o mesmo argumento vale) possui algumas
características particulares. Uma dessas características é a auto-referência. Ou seja, esse tipo de máquina recebe inputs não só do
mundo externo, mas também dos seus próprios estados internos. Isso gera um sistema com um caráter fortemente não-linear, bem
diferente de um mecanismo que apenas reage a estímulos. Mais um motivo para considerar argumentos do tipo do Searle como espantalhos:
se o "quarto chinês" tiver um número grande o suficiente de agentes trabalhando dentro dele, com um número suficientemente grande
de regras e com auto-referência, é possível imaginar que o conjunto do quarto demonstrasse consciência.

Grifo meu. Que diabos seria isso senão uma nova coisa "fundamental" emergindo da física, uma vez que isso não é ainda "previsto" por nada?

E, ao meu ver, nesses raciocínios não se usa a descrição física do que sejam estes estímulos externos e internos, incluindo-se aí, o que se chama de auto-referência (são meramente impulsos elétrico-químicos em uma rede ultra-complexa). Já se usa conceitos como contexto e informação de uma forma que já se pressupõe uma percepção consciente, para que o que foi dito faça sentido.

E a ciência, em sua história, evolui propondo/revendo conceitos antigos e propondo novas entidades/propriedades. Pelo menos pelo que sei, não existe um caso sequer, na história da evolução da ciência, onde se tenha utilizado a emergência ontológica ao invés de se postular uma nova propriedade/entidade fundamental.

Abs
Felipe

Sinto dizer, mas o trecho em negrito é bullshit. Os astrônomos nunca postularam algum tipo de entidade fundamental para explicar a forma de espiral das galáxias (a matéria escura é outra questão, que tem a ver com a velocidade orbital das estrelas). As espirais emergem naturalmente das leis de Newton. Os meteorologistas não postulam novas entidades para explicar o surgimento de frentes frias. Você não precisa de novas entidades fundamentais para explicar a forma das dunas de areia. A forma do traçado do leito dos rios também é emergente. O mesmo pode ser dito para o ritmo das ondas na praia, para oscilações do brilho de estrelas variáveis, para a atividade de redes neurais artificiais, para certas reações químicas, etc. etc. Propriedades emergente são um assunto bastante estudado e o que é mais fascinante acerca delas é justamente o fato de que princípios bem conhecidos e simples podem gerar comportamentos inesperados.
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Alan Watts

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1165 Online: 05 de Março de 2014, 18:59:27 »
Madiba, tenha dó. O que o Felipe está dizendo é que se você olhar para o cérebro de um homem enquanto ele observa um quadro, tudo que você verá são impulsos nervosos num pedaço de carne. Qualia é o resultado da conversão desses impulsos nervosos que você observa no cérebro exposto, do homem que observa o quadro, na imagem do quadro, na mente do homem.  :olheira:

Pois é. Mas daí ele dá um enoorme salto conceitual, ao tratar os qualia como algum tipo de entidade fundamental transcendente.




Não me parece muito distante do que você defendia no início do tópico:


Já usei demais o Dennet neste tópico. Vou invocar agora o Douglas Hofstadter: uma dos pontos que ele enfatiza é o fato de que,
embora seja possível criar uma hierarquia de máquinas cada vez mais complexas, de um relógio a um cérebro, uma máquina consciente
(embora o que li dele se refere a inteligência artificial, e não a consciência, mas acredito que o mesmo argumento vale) possui algumas
características particulares. Uma dessas características é a auto-referência. Ou seja, esse tipo de máquina recebe inputs não só do
mundo externo, mas também dos seus próprios estados internos. Isso gera um sistema com um caráter fortemente não-linear, bem
diferente de um mecanismo que apenas reage a estímulos. Mais um motivo para considerar argumentos do tipo do Searle como espantalhos:
se o "quarto chinês" tiver um número grande o suficiente de agentes trabalhando dentro dele, com um número suficientemente grande
de regras e com auto-referência, é possível imaginar que o conjunto do quarto demonstrasse consciência.

Grifo meu. Que diabos seria isso senão uma nova coisa "fundamental" emergindo da física, uma vez que isso não é ainda "previsto" por nada?

Infelizmente, só agora vi este post.

Não seria de forma alguma fundamental. Veja o exemplo da economia: a inflação de preços não é uma entidade fundamental, que "vive" no papel moeda, mas é na verdade uma propriedade emergente da interação entre agentes econômicos. Esse tipo de propriedade emergente é bastante comum em sistemas complexos. E o cérebro é um sistema complexo. O problema desse dualismo que o Feliperj defende é que ele pressupõe uma ontologia para esse tipo de entidade. Seria como dizer que a inflação "existe" em algum mundo platônico. A grande diferença que admito existir entre o fenômeno da consciência e outros fenômenos emergentes são a auto-referência e a recursividade: a consciência cria inputs a partir dos seus próprios outputs e também lida com modelos que representam a si mesma.

Não entendo como não seria "fundamental". Mas talvez nem entenda bem o que seria algo "fundamental". Para mim a "fundamentalidade" abarcaria resultados emergentes, ou ao menos especificamente aqueles que não se esperaria decorrerem dos processos de que emergem (diferentemente de inflação, mas novamente talvez o caso de algumas leis físicas, que em algum ponto devem parecer "arbitrárias", talvez até mesmo em fenômenos emergentes).

A mim aí a "fundamentalidade" implícita então parece ser algo como "sistemas que criem inputs a partir dos próprios outputs e criem modelos auto-referenciais terão a experiência de qualia". Que acaba sendo só um outro "esquemão" de correlatos da consciência, mas não restrito ao substrato neural, mas potencialmente "pan-psiquista" ou algo próximo disso, e que ainda fica devendo a explicação fundamental do porque/como isso ocorre (diferentemente da emergência da inflação ou quase qualquer outro tipo de emergência, onde normalmente o resultado emergente é algo mais facilmente intuído e completamente explicado a partir de suas bases). Sem uma explicação mais fundamental, acho que a coisa em si é que fica sendo considerada fundamental, não?


Offline _tiago

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1166 Online: 05 de Março de 2014, 19:29:11 »
Não entendo como não seria "fundamental". Mas talvez nem entenda bem o que seria algo "fundamental". Para mim a "fundamentalidade" abarcaria resultados emergentes, ou ao menos especificamente aqueles que não se esperaria decorrerem dos processos de que emergem (diferentemente de inflação, mas novamente talvez o caso de algumas leis físicas, que em algum ponto devem parecer "arbitrárias", talvez até mesmo em fenômenos emergentes).

A mim aí a "fundamentalidade" implícita então parece ser algo como "sistemas que criem inputs a partir dos próprios outputs e criem modelos auto-referenciais terão a experiência de qualia". Que acaba sendo só um outro "esquemão" de correlatos da consciência, mas não restrito ao substrato neural, mas potencialmente "pan-psiquista" ou algo próximo disso, e que ainda fica devendo a explicação fundamental do porque/como isso ocorre (diferentemente da emergência da inflação ou quase qualquer outro tipo de emergência, onde normalmente o resultado emergente é algo mais facilmente intuído e completamente explicado a partir de suas bases). Sem uma explicação mais fundamental, acho que a coisa em si é que fica sendo considerada fundamental, não?

A emergência é uma propriedade da interação de diversos outros sistemas, e essa propriedade não existe em si, mas depende de todos os processos que a ocasionam. Não entendi o que há de fundamental aqui. Inclusive, o proposição do Filipe, pelo que me recordo, igualava uma representação mental a um outro estado da matéria ou coisa que o valha.

Se o fenômeno consciente vier a ser explicada pela emergência de um sistema complexo, no caso, de informações, o entendimento dele há de se encerrar aí, sem apelar pra nenhum fantasma no universo.


Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1167 Online: 06 de Março de 2014, 13:42:05 »
Sinto dizer, mas o trecho em negrito é bullshit. Os astrônomos nunca postularam algum tipo de entidade fundamental para explicar a forma de espiral das galáxias (a matéria escura é outra questão, que tem a ver com a velocidade orbital das estrelas). As espirais emergem naturalmente das leis de Newton. Os meteorologistas não postulam novas entidades para explicar o surgimento de frentes frias. Você não precisa de novas entidades fundamentais para explicar a forma das dunas de areia. A forma do traçado do leito dos rios também é emergente. O mesmo pode ser dito para o ritmo das ondas na praia, para oscilações do brilho de estrelas variáveis, para a atividade de redes neurais artificiais, para certas reações químicas, etc. etc. Propriedades emergente são um assunto bastante estudado e o que é mais fascinante acerca delas é justamente o fato de que princípios bem conhecidos e simples podem gerar comportamentos inesperados.

Ola Dr. Manhattan,

Acho que vc não entendeu o que eu falei, pois o que vc falou justamente confirma o que falei  :)

Ao longo da evolução da ciência, algumas entidades/propriedades fundamentais foram propostas, ou não ?!? Dado isso, a ciência sempre evoluiu, em situações onde chegava-se a algo não explicado pelas entidades/propriedades anteriores, adicionando novas entidades/propriedades.  Em nenhum momento se utilizou de coisas como "propriedades" emergentes, no sentido forte, para explicação de fenômenos.

Existe a emergencia fraca (considerados por alguns como epstemológica) ligadas a capacidade que temos de saber e prever o que irá resultar das iterações das entidades individuais e a forte (considerada, por alguns, ontológica), ligada ao surgimento de algo realmente novo, com leis próprias, que nem teoricamente poderia ser deduzido do comportamento individual e das interação entre as entidades dos "níveis mais baixos".

O único exemplo consensual do tipo forte é a consciência. Todos os outros, incluindo os seus exemplos, são considerados exemplos de emergencia fraca.

Além do mais, o mais fascinante no emergencismo é a falta de consenso que existe, inclusive com relação a sua aplicação como explicação de algo.

Abs
Felipe

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1168 Online: 06 de Março de 2014, 13:47:04 »
A emergência é uma propriedade da interação de diversos outros sistemas, e essa propriedade não existe em si, mas depende de todos os processos que a ocasionam. Não entendi o que há de fundamental aqui. Inclusive, o proposição do Filipe, pelo que me recordo, igualava uma representação mental a um outro estado da matéria ou coisa que o valha.

Se o fenômeno consciente vier a ser explicada pela emergência de um sistema complexo, no caso, de informações, o entendimento dele há de se encerrar aí, sem apelar pra nenhum fantasma no universo.

Ola Tiago,

Eu não propus o que você colocou (na verdade, não fui eu que propos, eu defendo essa posição), eu propus que qualia seria apenas mais uma propriedade da matéria, assim como carga, massa, etc.

Sobre emergencia, segue um video rapido e esclarecedor do Chalmers, para o contexto dessa discussão :

www.youtube.com/watch?v=FN9lT8Vc8kk

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Offline Dr. Manhattan

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1169 Online: 06 de Março de 2014, 15:47:45 »
Sinto dizer, mas o trecho em negrito é bullshit. Os astrônomos nunca postularam algum tipo de entidade fundamental para explicar a forma de espiral das galáxias (a matéria escura é outra questão, que tem a ver com a velocidade orbital das estrelas). As espirais emergem naturalmente das leis de Newton. Os meteorologistas não postulam novas entidades para explicar o surgimento de frentes frias. Você não precisa de novas entidades fundamentais para explicar a forma das dunas de areia. A forma do traçado do leito dos rios também é emergente. O mesmo pode ser dito para o ritmo das ondas na praia, para oscilações do brilho de estrelas variáveis, para a atividade de redes neurais artificiais, para certas reações químicas, etc. etc. Propriedades emergente são um assunto bastante estudado e o que é mais fascinante acerca delas é justamente o fato de que princípios bem conhecidos e simples podem gerar comportamentos inesperados.

Ola Dr. Manhattan,

Acho que vc não entendeu o que eu falei, pois o que vc falou justamente confirma o que falei  :)

Ao longo da evolução da ciência, algumas entidades/propriedades fundamentais foram propostas, ou não ?!? Dado isso, a ciência sempre evoluiu, em situações onde chegava-se a algo não explicado pelas entidades/propriedades anteriores, adicionando novas entidades/propriedades.  Em nenhum momento se utilizou de coisas como "propriedades" emergentes, no sentido forte, para explicação de fenômenos.

Existe a emergencia fraca (considerados por alguns como epstemológica) ligadas a capacidade que temos de saber e prever o que irá resultar das iterações das entidades individuais e a forte (considerada, por alguns, ontológica), ligada ao surgimento de algo realmente novo, com leis próprias, que nem teoricamente poderia ser deduzido do comportamento individual e das interação entre as entidades dos "níveis mais baixos".

O único exemplo consensual do tipo forte é a consciência. Todos os outros, incluindo os seus exemplos, são considerados exemplos de emergencia fraca.

Além do mais, o mais fascinante no emergencismo é a falta de consenso que existe, inclusive com relação a sua aplicação como explicação de algo.

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O trecho que grifei é esclarecedor: você está simplesmente usando um argumento falacioso. No caso, uma petição de princípio. O que eu e outros aqui temos repetido é que não existe necessidade de se postular uma entidade fundamental como a que você sugere.

É bom lembrar também que várias das chamadas entidades fundamentais com as quais estamos familiarizados foram primeiro introduzidas como conceitos teóricos, princípios auxiliares, sem nenhuma pretensão ontológica. Foi o caso dos próprios átomos (Mach era um dos que se recusavam a admitir a realidade dos átomos). Sua existência foi postulada, mesmo que não fossem tratados como objetos físicos reais, porque ajudavam a explicar certos resultados experimentais. Só depois surgiu um consenso acerca da seu status ontológico. O fato é que também existem outras desses objetos teóricos auxiliares que nunca ganharam o status de objetos físicos reais. É o caso das linhas de força do campo elétrico e das linhas de indução magnética (nesse caso, Faraday acreditava que fossem objetos físicos). A propósito, entidades desse tipo são muito comuns em física da matéria condensada: falamos de objetos como polarons ou magnons como se fossem partículas se propagando em materiais, estudamos sua dinâmica e suas interações uns com os outros, mas na prática o que existem são elétrons interagindo com uma nuvem de vibrações mecânicas de um cristal (polarons) ou perturbações do alinhamento magnético em um cristal magnético (magnons).
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1170 Online: 06 de Março de 2014, 17:56:18 »
Não entendo como não seria "fundamental". Mas talvez nem entenda bem o que seria algo "fundamental". Para mim a "fundamentalidade" abarcaria resultados emergentes, ou ao menos especificamente aqueles que não se esperaria decorrerem dos processos de que emergem (diferentemente de inflação, mas novamente talvez o caso de algumas leis físicas, que em algum ponto devem parecer "arbitrárias", talvez até mesmo em fenômenos emergentes).

A mim aí a "fundamentalidade" implícita então parece ser algo como "sistemas que criem inputs a partir dos próprios outputs e criem modelos auto-referenciais terão a experiência de qualia". Que acaba sendo só um outro "esquemão" de correlatos da consciência, mas não restrito ao substrato neural, mas potencialmente "pan-psiquista" ou algo próximo disso, e que ainda fica devendo a explicação fundamental do porque/como isso ocorre (diferentemente da emergência da inflação ou quase qualquer outro tipo de emergência, onde normalmente o resultado emergente é algo mais facilmente intuído e completamente explicado a partir de suas bases). Sem uma explicação mais fundamental, acho que a coisa em si é que fica sendo considerada fundamental, não?

A emergência é uma propriedade da interação de diversos outros sistemas, e essa propriedade não existe em si, mas depende de todos os processos que a ocasionam.

Não sei o que quer dizer por "essa propriedade não existe em si". Quer dizer, "isoladamente"? Não pretendi sugerir que consciência fenomenal existisse "isoladamente", seja na "minha opinião", ou dentro dessa hipótese descrita pelo dr. Manhattan.

Essa emergência proposta no entanto ainda parece algo distinto da "emergência" da "circulação do sangue" a partir do sangue em movimento pelas veias e artérias, ou da "vida" a partir dos processos vitais; não parece ser algo que está lá meio que "por definição", por ser meramente a descrição das partes interagindo. Como provavelmente já foi dito anteriormente, consciência fenomenal, apesar de ser algo observado, não é bem algo "previsto pela física", simplesmente "está lá", quando nada nos sugere que fosse estar.

A única forma de se ter aquela proposição como também uma "explicação", é também postular algo nas linhas de "teoria de tipo-identidade" (ou o que quer que se encaixe melhor), mas isso não é algo "provado", é só uma assunção metafísica.

Chalmers faz uma distinção que não gosto muito, mas talvez venha a calhar. Emergência "forte" e "fraca". Emergência "tradicional" seria fraca. Nesses casos realmente não haveria nada a mais que a soma das partes, ou imprevisto a partir disso. Emergência "forte" seriam situações de aparentes "2+2=5". E que ele diz que teria a consciência como única instância conhecida.

Pode não ser o caso, mas ficamos entre isso e "novas propriedades da física" (que explicassem essa emergência como uma "fraca"), até termos compreensão da física por trás da consciência fenomenal. Que, sei lá, pode até ser "só" a física conhecida, ainda que não acho que se deva ver como herético a suposição de que pode haver mais do que aquilo que se conhece. Uma vez que até o momento, o que se conhece da "física da consciência", é algo extremamente próximo de zero, apenas correlações grosseiras, sem entendimento, sem mesmo idéia de como começar a explicar. Não é como um "raio-bola", que se pode imaginar coisas que talvez fossem causar esse "efeito". Mal se vê os "efeitos" como "fenômenos físicos" para começar, está se falando de um terreno inexplorado.



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Não entendi o que há de fundamental aqui. Inclusive, o proposição do Filipe, pelo que me recordo, igualava uma representação mental a um outro estado da matéria ou coisa que o valha.

Se o fenômeno consciente vier a ser explicada pela emergência de um sistema complexo, no caso, de informações, o entendimento dele há de se encerrar aí, sem apelar pra nenhum fantasma no universo.

O problema é que as coisas não são explicadas "por decreto". Não se pode simplesmente dizer, "esse sistema complexo é/será suficiente para explicar a consciência, e ponto final." É preciso "ligar os pontos". Se tudo que se pode dizer é que "inesperadamente, de alguma forma, esse sistema é acompanhado desse fenômeno", dizer que isso é o "ponto final" nada mais é do que "decretar" o status de "propriedade fundamental" ao que emerge do sistema.

Offline _tiago

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1171 Online: 06 de Março de 2014, 22:09:33 »
A emergência é uma propriedade da interação de diversos outros sistemas, e essa propriedade não existe em si, mas depende de todos os processos que a ocasionam. Não entendi o que há de fundamental aqui. Inclusive, o proposição do Filipe, pelo que me recordo, igualava uma representação mental a um outro estado da matéria ou coisa que o valha.

Se o fenômeno consciente vier a ser explicada pela emergência de um sistema complexo, no caso, de informações, o entendimento dele há de se encerrar aí, sem apelar pra nenhum fantasma no universo.

Ola Tiago,

Eu não propus o que você colocou (na verdade, não fui eu que propos, eu defendo essa posição), eu propus que qualia seria apenas mais uma propriedade da matéria, assim como carga, massa, etc .

Sobre emergencia, segue um video rapido e esclarecedor do Chalmers, para o contexto dessa discussão :

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As partes destacadas são sinônimos, a meu ver. Isso foi um salto conceitual tremendo!

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1172 Online: 07 de Março de 2014, 14:39:36 »
O trecho que grifei é esclarecedor: você está simplesmente usando um argumento falacioso. No caso, uma petição de princípio. O que eu e outros aqui temos repetido é que não existe necessidade de se postular uma entidade fundamental como a que você sugere.

É bom lembrar também que várias das chamadas entidades fundamentais com as quais estamos familiarizados foram primeiro introduzidas como conceitos teóricos, princípios auxiliares, sem nenhuma pretensão ontológica. Foi o caso dos próprios átomos (Mach era um dos que se recusavam a admitir a realidade dos átomos). Sua existência foi postulada, mesmo que não fossem tratados como objetos físicos reais, porque ajudavam a explicar certos resultados experimentais. Só depois surgiu um consenso acerca da seu status ontológico. O fato é que também existem outras desses objetos teóricos auxiliares que nunca ganharam o status de objetos físicos reais. É o caso das linhas de força do campo elétrico e das linhas de indução magnética (nesse caso, Faraday acreditava que fossem objetos físicos). A propósito, entidades desse tipo são muito comuns em física da matéria condensada: falamos de objetos como polarons ou magnons como se fossem partículas se propagando em materiais, estudamos sua dinâmica e suas interações uns com os outros, mas na prática o que existem são elétrons interagindo com uma nuvem de vibrações mecânicas de um cristal (polarons) ou perturbações do alinhamento magnético em um cristal magnético (magnons).

Ola Dr. Manhattan,

Primeiramente, volto a reforçar alguns pontos nessa discussão, com relação a minha posição:

1 – Por tudo o que já coloquei aqui, e em outros posts específicos, e pelo que o Buck também colocou, defendo que um programa de pesquisa, onde qualia apareça como propriedade fundamental, deva ser desenvolvido (como Tononi, por exemplo), para que também, o próprio conceito tenha uma definição mais acurada (parte em vermelho do trecho do livro “O que é Ciência Afinal”).

2 – Defendo que outros programas também continuem sendo desenvolvidos (outras tentativas de explicação onde qualia não seja propriedade fundamental)

3 – Aposto que a opção 2 irá se tornar programas degenerescentes, que dará espaço a opção 1.

Quanto ao que você postou : o trecho não é esclarecedor e não tem nada de falacioso, pois não é um argumento; é uma observação acerca de uma corrente filosófica. O que relatei sobre a consciência ser considerado o único exemplo “consensual” (entre os emergencistas) do que seria uma propriedade emergente forte pode ser encontrado em diferentes artigos sobre emergencismo de diferentes autores.

E a necessidade de se postular ou não alguma nova propriedade é extremamente difícil de se julgar. Será que outras entidades/propriedades não foram consideradas precipitadas também? Quase certo que sim, mas foi o sucesso do programa de pesquisa determinado por esta nova linha, que garantiu sua permanência e aceitação. E pelos argumentos que foram apresentados nesta e em outras discussções, acho muito justificável a adição de uma nova propriedade, que crie um novo programa de pesquisa.

Obs : se não me engano não foi o David Chalmers que criou esta taxionomia (forte e fraca) sobre emergência. Aliás, estou enviando um artigo que se propõe a organizar a taxonomia das diferentes teorias emergencistas só para vocês terem uma idéia de como a coisa é “obscura”. E, claro, se procurarem outros autores, encontraram diferentes taxonomias.

http://arxiv.org/ftp/nlin/papers/0506/0506028.pdf

Com relação às entidades fundamentais, o que você colocou só reforça a linha argumentativa que eu estou seguindo. Não importa a trajetória que algum conceito* seguiu até adquirir status ontológico. O ponto é que a ciência evoluiu dessa forma.
E é muito estranho, para mim, se aceitar, sem nenhum questionamento,  uma teoria que explica coisas reais em cima de coisas “fantasmas”, e rotular e rechaçar uma teoria que propõe os qualia como propriedade fundamental, por ser dualista, por colocar um “fantasma na máquina”; a física já está cheio de entidades fantasmas!!!!

Um outro exemplo destes “fantasmas” na física são os campos quânticos, que são consideradas as entidades mais fundamentais na TQC, para a explicação dos fenômenos observados (partículas), e que não são considerados reais por parte da comunidade física.

Obs : acho que, primeiramente, os átomos surgiram como entidades reais, que foram desacreditadas e depois voltaram para ficar.

*como informação adicional, segue um trecho do livro “O que é Ciência Afinal”, onde ressalto o trecho em itálico-vermelho (edit), que tem muito a ver com as críticas feitas aos qualia.

“A dependência dos sentidos dos conceitos da estrutura da teoria em que ocorrem e a dependência da precisão dos primeiros da precisão e do grau de coerência desses últimos podem tornar-se mais plausíveis notando-se as limitações dos modos alternativos em que se pode pensar que um conceito adquira sentido. Uma tal alternativa é o ponto de vista de que os conceitos adquirem seu sentido por meio de uma definição.

As definições devem ser rejeitadas como procedimento fundamental para o estabelecimento de sentidos. Os conceitos somente podem ser definidos em termos de outros conceitos, os sentidos dos quais são dados. Se os sentidos desses últimos conceitos forem eles mesmos estabelecidos por definições, fica claro que o resultado é um regresso infinito, a menos que os sentidos de alguns termos sejam conhecidos por algum outro meio. Um dicionário é inútil a menos que já se conheça o sentido de muitas palavras. Não era possível para Newton definir massa ou força em termos de conceitos pré-newtonianos.

Foi necessário que ele transcendesse os termos do velho sistema conceitua) e desenvolvesse um novo. Uma segunda alternativa é a sugestão de que o sentido do conceito é estabelecido através da observação, por meio de uma definição ostensiva. Uma dificuldade central dessa sugestão foi já discutida a respeito do conceito de “vermelho” nas páginas. Não se chega ao conceito de “massa” somente através da observação, por mais atentamente que se observem bolas de bilhar colidindo, pesos pendurados de molas, planetas em órbita etc., nem é possível ensinar a terceiros o sentido de massa simplesmente indicando tais eventos. Não é irrelevante lembrar nesse ponto que, se  tentarmos ensinar um cão por meio da definição ostensiva, ele reagirá invariavelmente cheirando o dedo que aponta. A afirmação de que os conceitos obtêm seus sentidos ao menos em parte do papel que desempenham numa teoria é sustentada pelas seguintes reflexões históricas.

Contrariamente ao mito popular, Galileu parece ter realizado poucas experiências em mecânica. Muitas das “experiências” a que ele se refere ao articular sua teoria são experiências de pensamento. Isto constitui um fato paradoxal para aqueles empiristas que pensam que as novas teorias derivam de alguma forma dos fatos, mas é bastante compreensível quando se percebe que a experimentação precisa somente poderá ser levada a cabo se tivermos uma teoria precisa capaz de produzir previsões sob a forma de afirmações precisas.

Galileu se encontrava no processo de fazer uma importante contribuição para a construção de uma nova mecânica, que provaria ser capaz de suportar uma experimentação detalhada num estágio posterior. Não é necessariamente surpreendente que seus esforços envolvessem experiências de pensamento, analogias e metáforas ilustrativas em vez de experimentação detalhada. Sugiro que a história típica de um conceito, seja ele “elemento químico”, “átomo”, “o inconsciente” ou qualquer outro, envolve uma aparição inicial do conceito como uma idéia vaga, seguido por seu esclarecimento gradual quando a teoria na qual ele desempenha um papel assume uma forma mais precisa e coerente.

A emergência do conceito de campo elétrico nos dá um exemplo especialmente notável, embora um tanto técnico. Quando primeiro o conceito foi introduzido, por Faraday, na quarta década do século XIX, ele era muito vago, e era articulado com a ajuda de analogias mecânicas e um uso metafórico de termos como “tensão”, “poder” e “força”.

O conceito de campo tornou-se cada vez mais bem definido quando foram ficando melhor especificadas as relações entre o campo elétrico e as outras quantidades
eletromagnéticas. Quando Maxwell introduziu sua corrente de deslocamento, foi possível dar uma grande coerência à teoria sob a forma das equações de Maxwell, que estabeleceram claramente o inter-relacionamento entre todas as quantidades do campo eletromagnético.

Foi a essa altura que o sentido de “campo elétrico” na teoria eletromagnética clássica alcançou alto grau de clareza e precisão. Foi também nesse ponto que se concedeu aos campos uma independência própria e dispensou-se o éter, que havia sido considerado necessário para dar aos campos uma base mecânica. \

Mencionamos até agora dois motivos para que as teorias devam ser vistas como estruturas organizadas de alguma espécie: o fato do estudo histórico demonstrar que as teorias possuem essa característica e o fato de que é somente por meio de uma teoria coerentemente estruturada que os conceitos adquirem um sentido preciso. Um terceiro motivo tem origem na necessidade da ciência de crescer. Está claro que a ciência avançará mais eficientemente se as teorias forem estruturadas de maneira a conter em seu interior indícios e receitas bastante claros quanto a como elas devem ser desenvolvidas e estendidas. Elas devem ser estruturas abertas para que ofereçam um programa de pesquisa. A mecânica de Newton forneceu um programa para os físicos dos séculos XVIII e XIX, o programa para explicar todo o mundo físico em termos de sistemas mecânicos que envolvem várias forças e são governados pelas leis do movimento de Newton. Este programa coerente pode ser comparado à moderna sociologia, grande parte da qual está suficientemente preocupada com dados empíricos para satisfazer os critérios falsificacionistas da boa ciência, o que não ocorre com os indutivistas, e que, entretanto, fracassa miseravelmente ao emular o sucesso da física. “


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« Última modificação: 07 de Março de 2014, 14:46:55 por Feliperj »

Offline Feliperj

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1173 Online: 07 de Março de 2014, 14:43:10 »
As partes destacadas são sinônimos, a meu ver. Isso foi um salto conceitual tremendo!

Ola Tiago,

Claro que é um salto!!!É mais uma propriedade sendo adicionada ao modelo.

Não importa o tamanho do salto, mas sim o que virá dele, conforme coloquei na resposta ao Dr. Manhattan!

Abs
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Offline Moro

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Re:Uma visão cética (sem bullshits filosóficos) da consciência
« Resposta #1174 Online: 07 de Março de 2014, 14:49:35 »
estou sem tempo para entrar em discussões mais aprofundadas agora, mas concordo com o Manhattan em linhas gerais. E o único salto depois, Felipe, é para a mesma baboseira desnecessária onde você está atolado.
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