A prioridade é a caça aos comunistas.
Para novo ministro, comunistas são o grande problema das universidadesEm dezembro passado, Abraham Weintraub declarou caça aos comunistas e defendeu educação focada no que ele chama de "cultura financeira". Ministro ainda não fez pronunciamento oficial
Públicado: 08/04/2019 Compartilhar:
Para novo ministro, comunistas são o grande problema das universidades
Sai Vélez, entra Weintraub (Fotos: Fábio França/G1 e Casa Civil/Divulgação)
Condsef/Fenadsef
Após fracasso de Ricardo Vélez à frente da Educação, o presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta segunda-feira, 8, o olavista Abraham Weintraub para substituir o ex-ministro colombiano. O mais novo integrante da equipe do governo não é tão novo assim: ocupava cargo de Secretário-executivo da Casa Civil nesta gestão, o segundo maior cargo da pasta, e atuou no programa de Previdência da transição.
Em dezembro passado, durante palestra na 1ª Cúpula Conservadora das Américas, em Foz do Iguaçu, Weintraub declarou caça aos comunistas como forma de vencer o marxismo cultural nas universidades. Para ele, pessoas de esquerda representam o verdadeiro inimigo. "They are going to ring your bell, your front door bell" [Eles vão tocar a sua campainha, sua campainha da porta da frente], disse em inglês para a plateia brasileira, durante a palestra dada ao lado de seu irmão e parceiro profissional, Arthur Bragança de Vasconcellos.
Vídeo no Youtube mostra fala de Ministro na íntegra. Enquanto se revesa entre idiomas, seu irmão cospe no chão ao falar sobre universidades (incluindo a Universidade de São Paulo e a Harvard University) e critica professores. "Socialista é a Aids.
Comunista é a doença socialista", afirmou. Arthur, que também participou da equipe de transição do governo ao lado de Abraham, e assinou conjuntamente a carta em defesa da independência do Banco Central, comentou durante o evento que o comunismo é um vírus alastrador e o Brasil conservador cristão é o responsável por conter a ameaça.
Formado em Economia, com mestrado pela Fundação Getúlio Vargas, Weintraub é neoliberal e tem trajetória de pesquisa sobre seguridade, previdência complementar e planos de saúde. Professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tem mestrado em Administração na área de Finanças pela Faculdade Getúlio Vargas. Define-se profissionalmente como um Executivo do mercado financeiro, com mais de vinte anos de experiência, tendo atuado como Sócio na Quest Investimentos, Diretor Estatutário do Banco Votorantim, representando a Votorantim nos encontros do FMI. Também foi membro do comitê de Trading da BM&FBovespa.
Atualmente também é o Diretor Executivo do Centro de Estudos em Seguridade e em 2016 coordenou a apresentação da proposta alternativa de reforma da Previdência Social formulada por professores da Unifesp. Com este currículo, o novo Ministro defende uma educação com foco no que ele chama de "cultura financeira". "Se a pessoa é criada desde pequena pensando em negócio, ela acaba gerando mais riqueza", disse durante a palestra. O argumento está de acordo com o incentivo à meritocracia, levantado por grandes empresários e pessoas do mercado financeiro.
Crise na Educação
Abraham Weintraub chega em um momento crítico para a Educação, que está há três meses com atividades paradas e testemunhou cortes relevantes nos últimos tempos, a começar pela Emenda Constitucional 95, que congela investimentos públicos pelos próximos 20 anos. Em março, Bolsonaro publicou decreto que extingue 13,7 mil cargos públicos nas universidades e colabora com o plano de desmonte estatal colocado em prática pelo governo. Em 2018, o Brasil foi eleito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) como um dos países que pior remuneram seus professores de ensino fundamental e médio. Para as entidades sindicais do serviço público, a estratégia do governo é sucatear as universidades federais para forçar privatizações futuras.
A demissão de Vélez veio depois de acúmulo de polêmicas que incluem medidas criticadas. Uma das primeiras foi a alteração de livros didáticos para retirada de responsabilidade das obras no combate à violência contra a mulher e contra quilombolas. Outras decisões que fragilizaram o Ministro foram a suspensão da avaliação da alfabetização dos estudantes por dois anos, a criação de uma comissão de avaliação das questões do Enem e pronunciamentos a favor do Golpe Militar de 1964.
Preocupação
Para alguns parlamentares, a escolha de Bolsonaro coloca a Educação em uma situação de alerta. O deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ) disse em seu perfil nas redes sociais que a troca de Vélez por Abraham Weintraub, sem carreira no setor, mostra que a Educação não tem prioridade neste governo. O deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) tuitou: "As trevas continuam pairando sobre o MEC. Assim como Vélez, e a ala de fanáticos do governo, Abraham Weintraub tem como grande missão o expurgo do 'marxismo cultural' na Educação. Certamente também acha que 64 não foi golpe e que não teve ditadura no Brasil. Seis por meia dúzia."
Tabata Amaral (PDT-SP) comentou ser triste que o Ministério da Educação continue sendo uma das poucas pastas onde há Ministro com pouca ou nenhuma experiência na área. Já a deputada federal da situação, Joice Hasselman (PSL-SP) elogiou o novo nome: "Absolutamente alinhado com as ideias do governo". Diante das críticas, o Ministro ainda não se pronunciou. Na prática, Weintraub toma posse nesta terça-feira, 9, às 14 horas, no Palácio do Planalto, segundo informações do MEC.
https://www.condsef.org.br/noticias/para-novo-ministro-comunistas-sao-grande-problema-das-universidades-1