Bem, o título é auto-explanatório....então vamos lá...acho que vale a pena ler até o fim...
Eu sou agnóstico e, falando como cientista, acho que essa é a posição mais coerente com as premissas e argumentos usados por "ateístas científicos" como Dawkins, Dennett ou Crick. Talvez sejamos, ambos os grupos, apenas ateus ou agnósticos (cf. por exemplo, quando tanto Dawkins quanto Dennett concedem, de maneira razoável que não tem "100% de certeza" de que "deus" não exista) e a distinção seja puramente semântica. Mas vamos supor que haja algo de substancial aí.
Iniciei falando
como cientista porque acho que a grande lição retirada por aqueles emepnhados em trabalho experimental, teórico ou mesmo por quem aprofunde-se na história (recente) da ciência é a de que existem
boas perguntas e perguntas
idiotas, sendo que a "questão de deus" se encaixa na segunda categoria. Grande parte do trabalho intelectual consiste em realidade não em encontrar respostas, mas em descubrir as perguntas e questões apropriadas. A "questão de deus" é estúpida pois pretende se tratar d euma hipótese empírica mas não provê meios para que a hipótese seja verificada, e em termos pragmáticos, aqueles que a defendem não aprecem importunados pelo uso de estratégias de reparo
ad hoc ou não titubeiam antes de lançar mão de evasivas que salvam a hipótese do Amigo Imaginário de uma possível invariância com as evidências ou inconsistências de princípio. Podemos imaginar qualquer "mundo possível", aonde diferentes leis físicas vigorem, aonde diferentes compostos e possibilidades químicas existam e aonde diferentes contingências históricas tenham se sucedido...e mesmo assim, "a hipótese de deus" (ou mesmo a "hipótese de que não há deus") é
sempre compatível com todos os cenários possíveis. Sinceramente, eu não consigo conceber um exemplo mais absurdo de especulação vazia de implicações empíricas. As evidências são mesmo compatíveis com mitos e historinhas diferentes: porque não um deus para cada "elemento da natureza"? ou porque não um deus vingativo e cruel ao invés do deus generoso das fantasias cristãs? ou um deus ausente, puro observador? Não há forma objetiva de se decidir.
De qualquer forma, por ser seguramente um agnóstico mais próximo do extremo ateísta do espectro de crenças possíveis, creio que o agnosticismo tem outras propriedades desejáveis:
(1) O agnosticismo é imune a estratégia teísta (e aí incluo esoteróides, místicos new-age e pós-modernistas franceses verborrágicos) de que o ateísmo é´"mais uma religião" sendo que
(2) na prática, o agnosticismo é
equivalente ao ateísmo no seguinte sentido: assim como o ateísmo ele torna em princípio infundada e incoerente qualquer tipo de "apelo à divindades" como justificativa objetiva de hipóteses ou como legitimador de práticas, comportamentos e condutas éticas. No fim, o efeito é o mesmo.
Outro fato que me parece justificar a opção pelo agnosticismo é que
todos os argumentos ateístas dirigem-se contra concepções particulares de deus ou outros agentes mitológicos (em especial, o deus judaico-cristão; o que eu acho muito apropriado). Mas nenhum destes pontos pode falar contra
alguma concepção qualquer, possível, desta natureza.
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